Excerto: O Segredo do Deus Góticko das Trevas


Há um Deus Secreto, um Deus Oculto, que mora em uma torre fortaleza em espiral e que guiou e acompanhou nosso desenvolvimento desde tempos imemoriais - e que permaneceu oculto, mas muito próximo de nós, aguardando o tempo "futuro" de despertar novamente. A hora do despertar está próxima. Já ouvimos os trovões distantes que sinalizam a tempestade que se aproxima.

O legado do Deus Góticko das Trevas é aquele que pode guiar os escolhidos por ele para um estado de desenvolvimento em que atingiram uma consciência permanente (imortal) que é livre para agir ou não no universo material como desejar. Essa consciência se torna a par de todos os tipos de segredos da vida e da morte e da vida na morte. O preço dessa conquista está contido no custo de sua realização - para quem foi escolhido, não pode haver descanso, nem pausa na jornada que é e continua sendo a Obra Eterna.

Porque a maneira pela qual o conhecimento desse Deus Gótico das Trevas é passado de geração a geração contradiz os métodos favorecidos das chamados "grandes religiões" do mundo - as religiões do "livro"- judaísmo, cristianismo e Islã - esse conhecimento e seus métodos foram proibidos e feitos tabu por todos os séculos desde a ardilosa conversão ideológica da Europa pelo cristianismo.

Livros podem ser queimados, líderes religiosos podem ser mortos - mas o sangue persiste.


O Deus Góticko


Nos últimos dez ou quinze anos, a cultura Europeia Ocidental (incluindo todas as "colônias" de culturas da Europa Ocidental, como as da América do Norte e Austrália) testemunhou um renascimento de uma "Kultura Gothicka" estética. Este renascimento, ou o despertar, do espírito góticko, em muitos aspectos, segue as características de todos os renascimentos anteriores.

A palavra "Gothicko" é a chave para entender a natureza e o caráter do espírito por trás da estética. (Aqui eu uso a grafia com "k" por razões estéticas, bem como para diferenciar o movimento cultural de designações de arquitetura ou história literária - mais comumente escrita da maneira padrão.) "Gothicko" é em última análise, derivado do nome de uma antiga nação germânica - os Godos.

Esses Godos vieram do extremo norte (da atual Götaland na Suécia) e migraram para regiões mais ao sul da Europa a partir de 150 d.C. Eles se dividiram em dois grandes grupos ao longo do caminho: os Visigodos e os Ostrogodos. No sul estabeleceram reinos na atual Itália (com sua capital em Ravena) e no sul da França (com sua capital na atual Toulouse). Este último reino, sob pressão dos Francos, mudou sua capital para a atual cidade espanhola de Toledo. Em todas essas regiões, os Godos estabeleceram muitas tradições secretas nos mais altos níveis da sociedade. A ponta deste iceberg secreto é revelada quando se percebe que muitos dos nomes da nobreza, tanto espanhóis quanto italianos, são derivados das formas góticas. Alguns dos exemplos mais comuns seriam Frederico, Adolfo, Carlo, Ricardo ...

O mistério do que aconteceu com o tesouro perdido de Roma (incluindo o "A Arca Perdida") pode ser resolvido através do conhecimento da história secreta visigótica. Mas esta é uma história para outra hora. Eventualmente, os Godos foram derrotados militarmente por uma coalizão da Igreja Católica Romana e o rei dos Francos, que foi o primeiro rei germânico a se converter ao catolicismo romano. Todos os outros antes dele, incluindo muitos Godos, haviam se "convertido" em seu próprio tipo de "Cristianismo Gótico" esotérico. O fim do reinado dos góticos na Espanha veio com a invasão dos muçulmanos em 711 CE. Mas suas tradições secretas continuaram.

Os Godos ganharam reputação a seu tempo, e através das eras subsequentes, como uma espécie de "raça-mestre". Na antiga Escandinávia, a palavra "gotar" era usada como um título honorífico para heróis, e  ainda hoje membros da classe nobre da modernidade. A Espanha é conhecida como Gotos ("Godos"). Com o passar do tempo, uma parte das tradições góticas secretas se fundiram com as tradições estabelecidas dos povos que os sucederam, enquanto outra parte ficou difusa em um tipo de "subclasse" cultural de camponeses, vagabundos e hereges.

De quatro a cinco séculos após o seu "desaparecimento" oficial, uma estética em memória da essência dos Godos foi criada no norte da Europa - mais tarde historiadores da arte a chamaram de estilo "gótico". Mas em nenhum lugar os Godos ficaram sem serem reconhecidos por seu prestígio e tradição secreta. Esse passado sombrio e misterioso de qualidades sobre-humanas dos góthickos apareceu como uma alternativa secreta ao passado clássico brilhante e racional, que foi usado como modelo tanto para teólogos cristãos da Idade Média quanto para humanistas racionais do Renascimento.

É nessa estrutura cultural que o movimento do Romantismo começa a crescer nos últimos anos de 1700. Os modelos clássicos haviam falhado na vanguarda desses dias. Eles o vislumbraram num passado mais distante, como uma maneira de ver em um nível mais profundo, misterioso e ao mesmo tempo mais real de si mesmos. Quando os franceses olharam mais além de suas raízes cristãs medievais, encontraram os romanos e, portanto, a palavra "Român-tico" descreveu apropriadamente o que buscavam. No norte da Europa, no entanto, o termo "Romântico" geralmente faltava significado para as almas aventureiras que nada viam dessa fórmula de "passado profundo" = "eu profundo" nessa palavra. Ainda era lembrado que nosso passado nobre não era romano, mas góticko. (Aqui a palavra "Góticko" também era sinônimo de "Germânico" ou "Teutônico").

O mundo góticko era um mundo do passado distante e poderoso, envolto em névoa e rodeado pelas trevas - um mundo noturno de sonhos e pesadelos. As imagens gothickas conjuradas pelos artistas da época - poetas como Burger, Novalis, Byron e Hugo, ou pintores como Fuseli, Arbo e Dore - atuavam como um portal para entrar no mundo das nascentes góthickas. Os mortos voltavam a vida novamente e caminharam entre os vivos - e nos vivos geraram os filhos das trevas.

Esse processo continuou daquele tempo até hoje, se ramificando em círculos cada vez mais amplos para abranger mais aspectos da vida. Mas no nível do que poderia ser chamado de "cultura popular", podem ser vistos traços claros que ligam "The Mysteries of Udolpho" de Ann Radcliffe a "The Monk" de M. G. Lewis, e de "Melmoth" de C.R. Maturin aos contos e poesias de  Edgar Allan Poe, e do "The King in Yellow" de R. W. Chambers ao "Drácula" de Bram Stoker e assim em diante até as obras de Hanns Heinz Ewers, H.P. Lovecraft e Anne Rice. Tudo à sua maneira, consciente ou inconscientemente, contribuiu para a chegada do Deus Góticko das Trevas na cultura popular.

Em muitos aspectos, o famoso romance de Bram Stoker, Drácula, foi um "aviso" relativo ao surgimento de uma "influência maligna" do passado Gothicko - Die Toten reiten schnell! Stoker faz com que seu nobre maligno declare seu parentesco com os Berserkers do norte que lutavam com o "espírito que Thor e Wodin [sic] lhes deram", e até se refere obliquamente à tradição gótica relatada por Jordanes em sua obra "Getica" de que os hunos eram descendentes de feiticeiras góticas, conhecidas como Haljurunas (Hel-Runas), e demônios que vagavam pelas estepes.

Essa influência também não foi perdida pelo escritor americano H.P. Lovecraft, que, quando se sentia mais "heroico" em sua juventude, se identificava fortemente com a herança gótica. E uma carta de outubro de 1921, ele escreveu: "Sou essencialmente um teutão e bárbaro; um nórdico xantocrômico das florestas úmidas da Alemanha ou da Escandinávia ... sou filho de Odin e irmão de Hengist e Horsa ..."

O Deus mais importante dos antigos Godos era seu ancestral mais distante, que as histórias góticas registram como chamado Gaute. A antiga literatura nórdica fornece a chave para descobrir uma identidade mais familiar desse Deus. Lá encontramos esse nome entre os muitos nomes característicos dados ao Deus Odin ou Woden (como ele era conhecido entre os anglo-saxões). Odin é chamado de AllFather (Pai de Todos), e Gaute está no topo da genealogia dos reis góticos, assim como Woden está no topo das genealogias de todos os reis ingleses pré-normandos.

Esse Deus - ou o derradeiro ancestral sobre-humano - é um comunicador sábio e sombrio. Ele é o mestre de todas as formas de comunicação misteriosa por meio de sinais e símbolos. Nos tempos antigos, um sistema de tais símbolos para comunicação foi descoberto e chamado de "Runas". Para aprender isso o Deus se enforcou por nove noites em uma árvore e, assim, encontrou o reino da Morte - e estando nessa situação de como se estivesse na ponta de uma lança, que é o limiar entre vida e morte, ele imediatamente compreendeu as Runas - os Mistérios do mundo.

Essas runas formam um sistema de elementos semióticos que não são apenas potentes de uma maneira puramente abstrata ou teórica, mas que, por sua própria natureza, estão conectados ao universo físico e ao reino de geração e regeneração.

Excerto do texto "The Secret of the Gothick God of Darkness" de Stephen E. Flowers.

Tradução de Frater Ayon Excelsior

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