Sobre trabalhos e feitiços no Brasil...
A famosa simpatia
que manda escrever o nome da pessoa odiada num papel e costurá-lo dentro da
boca de um sapo pode derivar do costume dos índios carijós que amarravam o sapo
numa árvore invocando o mal a alguém para que o animal morresse, apodrecesse,
e, conseqüentemente, a pessoa também. Se bem que em 1932, na França, o
jornalista William Seabrook encontrou uma boneca de bruxa, crivada de alfinetes
e borrada com sangue de sapo. Junto à boneca havia uma Bíblia com um crucifixo
invertido, no qual um sapo havia sido crucificado com a cabeça para baixo. Seguindo
o mesmo princípio, há quem se valha de gatos, galinhas e até cadáveres
humanos... Enquanto fazia pesquisa de campo para o livro Arte e Sociedade
nos Cemitérios Brasileiros, Clarival do Prado Valladares fez uma descoberta
desconcertante:
“O achado mais estranho nessas pesquisas ocorreu no velho cemitério, de cripta,
no antigo Convento de São Francisco, de Vila Velha de Alagoas, hoje Deodoro. O
cemitério em desuso, com entrada de alçapão pela Capela do Sacramento, consta
de uma cripta de cerca de 4 X 6
m em correspondência às dimensões da capela, com
carneiros construídos nas paredes laterais e lajes de campas. Sua coberta tem a
altura máxima de 2,5 m .
Fizemos a documentação fotográfica com um refletor que providencialmente nos
serviu para o exame detalhado das inumeráveis inscrições de nomes de pessoas e
datas recentes, até de 1965, em letras de imprensa e de uma mesma caligrafia,
enchendo totalmente o forro abobadal da cripta. De maneira alguma aquelas inscrições,
feitas a fumo de velas, contra o reboco, poderiam corresponder aos nomes dos
sepultados. Praticamente todas as datas já estavam fora do seu uso, e nem há
sinais nem notícias de sepultamento nestes últimos decênios. Encontramos urnas
de restos mortais trasladados, violadas, com os ossos, cabelos e fragmentos de
vestes, espalhados sobre um batente.
As freiras que dirigem o educandário instalado no antigo convento franciscano
de Deodoro nada sabem informar porque é uma ocorrência antes da presença delas.
Em nossa interpretação trata-se de prática de feitiçaria, com uma caligrafia
idêntica para várias inscrições, cujos nomes não parecem ser de mortos, mas de
indiciados do fetichismo. Nada mais podemos indicar sobre esses achados,
ignorados pelas pessoas locais, senão a evidência das fotografias.
Torre sineira da Igreja de N. S. da Piedade do Iguassu |
No velho Cemitério de N. S. do Rosário (1875), das ruínas de Iguaçu Velha, além
da prática de macumba em torno do Cruzeiro, que tem ação votiva e de apelo nas
viscitudes dos crentes, há os restos de um luxuoso e impotente jazigo de cerca
de cinco metros de altura construído em base de alvenaria revestida de laje de
mármore, pedestal e nicho em colunatas de mármore. Próximo deste jazigo
encontram-se os restos da base de uma capela-jazigo cuja entrada foi fechada
por parede de alvenaria e na qual, posteriormente, se fez uma abertura de 40 X 50 cm . Examinando o interior
desta capela-jazigo, com o foco de uma lanterna, encontramos uma quantidade
espantosa de objetos de uso pessoal (roupas, cartas, retratos, vidros, terços,
etc.) e todas as paredes preenchidas com nomes e datas de pessoas riscadas a
carvão, grafite, tinta, e também a fumo de vela. Há uma certa semelhança entre
esta observação e aquela outra de Deodoro, de Alagoas. Nossa cautela está em
diferenciar a prática ingênua da macumba, em termos de ação votiva e de apelo,
com esta outra de caráter de feitiçaria demonológica capaz de atingir a
criminalidade do vandalismo, do sacrifício e do infanticídio que não é tão
desconhecido do próprio noticiário dos jornais brasileiros.
Outro caso diz
respeito a atriz Daniella Peres. Os ossos da atriz, assassinada em 28 de
dezembro de 1992, foram transferidos pela família para um lugar não revelado
depois que foi constatada a violação de seu túmulo, no Cemitério São João
Batista, em Botafogo. De
acordo com a novelista Glória Perez, mãe da vítima, o túmulo foi aberto na
semana do Natal, e, dentro dele, havia flores do cruzeiro. Ao lado, foram
encontrados dois bonecos amarrados e espetados com alfinetes. Na lápide, uma
inscrição indicava o número 28/99, a data do assassinado da atriz. As pontas do
par de sapatilhas que enfeita o túmulo também foram serradas.
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