Excerto: Manual de Psicomagia - Apêndice

A psicomagia, sendo o produto de uma intensa experiência teatral e artistica, é impossível de ser exercida por uma pessoa que não tenha praticado algum tipo de arte. Se encontrará nela elementos que se assemelham ao happening e a performance, a poesia, a pintura e a escultura ou as artes marciais. Outros grandes inspiradores desta arte de cura têm sido a magia tradicional, o xamanismo e as técnicas de curandeiros populares. Quem decida dedicar-se profissionalmente a ministrar conselhos psicomágicos, deve antes praticar o Tarô (tal como ensino em meu livro La via del Tarot), conhecer a história do teatro, das artes plásticas, da magia, do xamanismo, das artes marciais. Lendo grandes poetas deve desenvolver sua sensibilidade; conhecer as teorias psicanalíticas, aprofundar-se na psicogenealogia e, sobretudo, deixando de lado qualquer doutrina religiosa, preparar-se, com a mesma paixão como o faz um monge budista, para vencer o apego a sua individualidade, formada pela família, sociedade e pela cultura para, vencer a discriminação para proceder impessoalmete durante as consultas... A criatividade psicomágica não é inata, nem se pode consquistar de um dia para outro, requer muitos anos de pacientes esforços.


A preparação de um psicomago pode se dividir em três etapas: ser dono de si mesmo na vida cotidiana, desenvolver seu nível de Consciencia e construir para si mesmo uma moral de vida objetiva.



Na primeira etapa, o aspirante deve...



...aprender a fixar sua atenção em um só tema, um só ponto, uma só ação,

vencer suas preguiças, sempre terminar o que tenha começado,
propor-se a fazer o melhor possível no que esteja fazendo,
nunca permitir-se, ainda que sozinho, atitudes indignas de seu nível espiritual,
eliminar todo vício, mania, gesto repitido,
controlar suas expressões faciais, não fazer caretas,
estar alerta em cada instante,
desenvolver sua generosidade,
esforçar-se para escutar os outros, evitar criar problemas,
adaptar sua maneira de falar ao nível intelectual de quem o escuta,
agradecer conscientemente cada dom,
explorar suas possibilidades corporais,
deixar de se auto-definir, não mentir e nem mentir a si mesmo,
não ter complacencia na dor ou no temor,
ajudar o próximo sem fazê-lo dependente,
não imitar e nem desejar ser imitado, 
não ocupar espaço demais, fazer o menor ruído possível,
responder honestamente a cada pergunta,
não se deixar impressionar por personalidades fortes,
não se apropriar de nada nem de ninguém,
não enganar, não seduzir, não seguir modas,
comer somente o necessário, proteger sua saúde,
não falar de problemas pessoais,
não estabelecer reslações amistosas inúteis,
ser pontual, limpo e ordenado,
não invejar os objetos e os êxitos de seus próximos,
falar estritamente o necessário, não se exibir,
não gesticular inutilmente, nem mais nem menos,
não pensar nos benefícios que vá produzir sua ação ou obra,
nunca ameaçar,
não aceitar trabalhar no que desgosta, não se prostituir,
cumprir sempre suas promessas, respeitar seus contratos,
ser capaz de esquecer de si mesmo e se colocar no lugar do outro,
não eliminar, mas sim transformar,
nunca visitar sem levar um presente,
não mudar de caminho por causa de críticas ou elogios,
perdoar a seus pais e a quem lhe causou mal,
deixar vir a seu espírito todos os pensamentos, sentimentos e desejos, por mais mosntruosos que sejam, e deixá-los poassar, sem se identificar com eles,
ajudar os outros a ajudarem a si mesmos,
nunca aceitar um "não" ou um "sim" injustos,
vencer as antipatias e transformá-las em benevolência,
vencer seu orgulho e transformá-lo em dignidade,
vencer sua raiva e transformá-la em criatividade,
vencer sua avareza e transformá-la em amor e belza,
vencer a inveja e tranforma-la em amor pelos valores dos outros,
vencer seu ódio e transformá-lo em generosidade,
vencer sua falta de fé e transformá-la em amor ao universo,
enfrentar seus pesadelos e vencer,
não se permitir nos sonhos comportamentos que não admitiria desperto.


Na segunda etapa, o aspirante deve...



...reconhecer seus juízos subjetivos e não aplicá-los aos outros como se fossem verdades objetivas,

compreender porque está vivo e que deve fazer para cooperar com os projetos do universo,
não estar a mercê de seu corpo (sabendo que as impressões dos sentidos podem ser enganosas),
não permitir que as enfermidades afetem seus espírito nem que a inércia, a qual chamam depressão, o impeça de se desenvolver,
não inibir seus desejos (insatisfação) nem tampouco exacerba-los (obsessão),
não se identificar com os sentimentos negativos, vínculos absorventes com pessoas, sociedades e lugares, atrações ou repulsas, medos, ansiedades e raivas acumuladas que se transformam em ódio,
varrer da mente os diálogos internos, os sonhos em vígilia, a sugestionabilidade, o desejo de atribuir a si mesmo valores alheios, os egoísmos vulgares e a imaginação tóxica que o divirte para fazer esquecer que é mortal,
deixar de acumular com voracidade impressões ou criar atitudes postiças plagiadas de personalidades importantes,
despertar em seu espirito a fé (confiança e não mera crença), a esperança (esforço correto para conquistar o que és e não o desejo neurótico para conseguir o que deveria ser) e a caridade (amor a a humanidade, ao que foi, ao que é e a que será),
respeitar aos outros não pelos desvios narcisistas de sua personalidade, relfetidas por comédias publicitárias, diplomas, prêmios, corpos remodelados, voracidade economica, adornos excessivos, mas sim pelos seu desenvolvimento interno,
desenvolver harmoniosamente seus quatro centros: intelectual, emocional, sexual e corporal,
não se refugiar em somente um centro ou dois, para reprimir os restantes, estabelecendo barreiras interiores onde pensamentos, emoçoes, desejos e necessidades vivem em tempos e intensidades imcopátiveis,
saber descansar, sua mente em silêncio, seu coração sem discriminar, seu sexo sentindo-se satisfeito e seu corpo agradecido de estar vivo,
eliminar hábitos e repetições, seguindo seus legítimos desejos, não copiandoo que os outros fazem e nem se comparando com eles em constante competição,
dar-se conta de que é impossível conhecer os seres em sua totalidade e se preocupar de verificar se as relações que estabelece com eles obedecem a projetos construtivos,
deixar de atuar para acumular méritos,
não fugir, mas sim enfrentar voluntariamente a seus sofrimentos,
ser capaz de não desperdiçar a energia mental, emocional, sexual ou física, sempre pensando que o que obtem para si mesmo deve desejar também para os outros,
nunca converter, por amarras infantis, as mentiras em supertições,
dar-se conta de que mais importante do que o que acontece é como reage ante ao que acontece,
compreender que sua vontade consciente somente é livre quando é exercida em união com a vontade do Inconsciente.


Na terceira etapa, o aspirante deve poder afirmar sinceramente:



O que virá, virá e o aceito.

Não guiarei minhas ações por medo de castigos infernais ou por cobiça de prêmios celestiais.
Serei sempre o que sou e não o que os outros querem que seja.
Aceitarei as leis proclamadas pela coletividade, mas em minha mente e em meu coração permanecerei livre de pensar e amar o que deseje.
O que não sou, nunca serei. O que em verdade sou, o serei sempre.
Deixarei de afirmar que minha realização está no futuro. É agora que devo me realizar, fazer frutificar minhas potencialidades.
Se Deus não está aqui, não está em nenhuma parte. Se eu não estou aqui, não estou em nenhuma parte.
Não desdenharei o presente por um misterioso porvir.
Se existe um mais-além, não necessito sabe-lo agora.
Quando vier o que deve vir, se existe algo, nada me impedirá de sabê-lo. Se não há nada, eu também serei nada. Porque então me angustiar?
Me desprenderei das idéias nocivas formadas por crenças filhas da angústia: sou o que estou sendo, não o que fui nem o que serei, viverei decidindo-me a pensar que se agora, domando meu espírito, alcanço a paz, no futuro, se sou consciente, serei capaz de existir com felicidade em qualquer dimensão.
Então sem me preocupar com este Mais-Além gozarei expandindo os limites de minha Consciência, conhecendo tudo o que me seja possível conhecer, sem me estancar defendendo limites intelectuais, emocionais, sexuais ou materiais.
Para poder conhecer e amar os outros, aprenderei a me conhecer e a amar a mim mesmo.
Compreenderei que o melhor que pode ter me acontecido neste mundo foi nascer.
Compreenderei que o que chamo morrer é uma transformação necessária.
Compreenderei que o que existe no mundo não define a essência do mundo. Um monte de lixo em um cálice de ouro não lhe tira a qualidade, somente o suja momentaneamente.
Há violência, egoísmo, fanatismo, mas o mundo não é isso: apesar da abundância de atos negativos, é um paraíso básico, um terreno que eu devo limpar e utilizar de forma positiva. Extrair o lixo do cálice e em seu lugar colocar um diamante.
A existência é sagrada. Eu sou sagrado.
Tudo que obter compartilharei com os outros.







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