Excerto: Magia Octarina

(por Peter J. Carrol)

    Seguindo as hipóteses de Pratchett em "The Colour of Magic" (e muitas coisas úteis são ditas em forma de gracejo), a oitava cor do espectro pode ser chamada de octarina. Esta 
cor será, para o mago, a sua percepção pessoal da magia. Para mim, ela é uma tonalidade particular do rosa-púrpura elétrico. Minhas visões mais significativas têm ocorrido, todas nesta cor, e visualizo-a para colorir muitos de meus encantamentos sigilos mais importantes no Astral. Antes que eu navegasse num barco feito à mão pelo Mar da Arábia, fui induzido por um feiticeiro indiano a aceitar uma imensa estrela de rubi, de valor incalculável. Ela era de um matiz, exatamente, octarino. Durante o mais violento tufão que jamais experimentei, encontrei-me agarrado aos gurupés, gritando minhas conjurações para Thor e Poseidon ao mesmo tempo que enormes ondas atiravam-se contra o barco e luminosos raios octarinos quebravam no mar por toda a volta. Olhando para o passado, parece um milagre que eu e minha tripulação tenhamos sobrevivido. Mantenho a pedra octarina comigo, incerto se ela me foi passada como uma maldição, uma bênção, um teste ou todas estas coisas reunidas.

    Outros magos percebem a octarina de diferentes modos. Minha percepção pessoal da octarina provavelmente reflete minhas formas mais eficientes de gnoses: o sexo (púrpura) e a raiva (vermelho). Cada um deve buscar uma cor da magia (octarina) para si. O poder octarino é o nosso impulso instintivo para a magia. Impulso este que, ao permitirmos aflorar, cria o 'eu-mágico', ou personalidade na psique, e uma afinidade com várias formas de deus mágicas. O 'eu-mágico' varia entre os magos, porém possui as características gerais de antinomianismo e desvio (desencaminho) com uma predileção pela manipulação e pelo bizarro. O antinomianismo do "eu-mágico" surge, até certo grau, pela alienação geral da cultura vigente provocada pela magia. Assim, o "eu-mágico" tende a se interessar por tudo aquilo que não existe, ou que não deveria existir segundo o senso comum.. Para o "eu-mágico" nada é antinatural, uma declaração com ilimitados significados. O desvio do "eu-mágico" é uma consequência natural da "destreza da mente", técnica requerida para manipular aquilo que não pode ser visto. As formas de deus do poder octarino são aquelas que correspondem mais estreitamente às características do "eu-mágico" e são, normalmente, as formas de possessão mais importantes para o mago que busca inspiração de natureza puramente mágica. 

    Baphomet, Pan, Odin, Loki, Tiamat, Ptah, Eris, Hekate, Babalon, Lilith e Ishtar são exemplos de formas de deus que podem ser usadas para este propósito. Como alternativa, o mago pode desejar formular uma forma de deus em uma base unicamente idiossincrática onde, para tal, o planeta Urano e o simbolismo da serpente provaram ser pontos de partida muito úteis. O mago pode invocar tais formas de deus para a iluminação de vários aspectos do "eumágico" e para inúmeros trabalhos de magia pura, preferivelmente à aplicada. A categoria de magia pura inclui atividades como: o desenvolvimento de teorias e filosofias mágicas, o desenvolvimento de programas de treinamento mágico, o planejamento de sistemas simbólicos para uso na adivinhação, o desenvolvimento de encantamentos e a criação de linguagens mágicas com objetivos similares. É valido assinalar aqui que as linguagens da Magia Caótica são, normalmente, escritas em V-primo, antes da transliteração para a forma bárbara mágica. V-primo, ou Vernacular primo, é simplesmente a sua língua nativa na qual são omitidos todos os usos de quaisquer tempos do verbo ser, de acordo com a metafísica quântica. Toda a falta de sentido do transcedentalismo desaparece muito naturalmente uma vez adotada esta tática. 

    Não há ser, tudo é fazer. Invoca-se o poder octarino para inspirar o "eu-mágico" e para alargar o arcano fundamental do mago. O arcano fundamental do mago consiste nos símbolos pessoais básicos com os quais você interpreta e influencia magicamente a realidade (tudo o que pode acontecer na percepção). Estes símbolos podem ser teorias ou kabbalas, obsessões, armas mágicas, astrais ou físicas, ou de fato, qualquer coisa que diga respeito à prática da magia de forma geral - qualquer coisa que não seja destinada, especificamente, para algum dos outros poderes da magia aplicada. Os símbolos desta última formam o
arcano secundário de magia. Da situação privilegiada que é a gnoses octarina, o "eu-mágico" é capaz de compreender os eus dos outros sete poderes e a sua inter-relação dentro de um organismo global.

    Portanto, o poder octarino traz alguma habilidade em psiquiatria, cuja função é o ajustamento da relação entre os eu's em um organismo. A diferença básica entre um mago e um indivíduo comum é que neste último o poder octarino já é vestígio ou ainda incipiente. O repouso normal ou o modo indiferente de uma pessoa comum corresponde a uma leve expressão do poder amarelo. Este poder é considerado como sendo a personalidade normal ou o ego. O "eu-mágico" entretanto, é totalmente consciente de que este poder amarelo é somente uma das oito principais ferramentas que o organismo possui. Assim, num certo sentido, a personalidade normal do mago é uma ferramenta do "eu-mágico" ( e vice-versa ). Este entendimento dá a ele alguma vantagem sobre as pessoas comuns. Entretanto, o "eu-mágico" em desenvolvimento logo perceberá que não é superior, em si mesmo, aos outros eu's pois há muitas coisas que estes podem fazer que ele não pode. O desenvolvimento do poder octarino através da filosofia e prática da magia, tende a prover o mago de um segundo centro principal entre os eu's. Este segundo centro irá complementar o ego do poder amarelo. O despertar do poder octarino é, algumas vezes, conhecido como "ser mordido pela serpente". Aqueles que passam por isto se reconhecem mutuamente tão instantaneamente quanto, por exemplo, dois sobreviventes de um bote salva-vidas. Talvez um dos maiores artifícios da "destreza da mente" seja permitir que o "eu-mágico"e o ego dancem juntos dentro da psique sem conflitos excessivos. O mago que é incapaz de fingir ser uma pessoa comum ou que é incapaz de agir de forma independente de seu próprio ego, não é mago totalmente. Por outro lado, o crescimento do octarino ou oitavo poder do eu, a descoberta do tipo de mago que a pessoa quer ser e a identificação ou síntese de uma forma-deus para representar este ideal, tendem a criar algo como um ser mutante que avançou na direção de um paradigma do qual muito poucos estão cientes. Não é fácil voltar atrás uma vez iniciada a viagem, embora alguns tenham tentado abortá-la com narcóticos, inclusive misticismo. É uma peregrinação para um destino desconhecido onde a pessoa desperta com êxito de um pesadelo para entrar em outro. Alguns deles parecem muito interessantes em determinados momentos. Há mundos dentre nós; os abismos são somente as iniciações entre eles. 

    A evocação de um servidor octarino pode criar uma inestimável ferramenta para aqueles que estão engajados em pesquisa mágica. As principais funções de tais entidades são, normalmente, ajudar na descoberta de informações úteis e contatos. Não podemos ignorar aqui os resultados negativos. Por exemplo: o completo fracasso de um servidor bem preparado em recuperar informações a respeito do hipotético Big-Bang cósmico foi um fator que contribuiu no desenvolvimento da teoria Fiat Nox.

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